INTRODUÇÃO

                                                                  INTRODUÇÃO


A epístola aos Gálatas tem sido corretamente intitulada de Declaração da Independência Cristã.

Nossa independência diz respeito à legislação mosaica e suas exigências, tanto no que concerne a ser ela um possível agente salvador, como no que concerne a ser ela uma «norma da conduta cristã». Paulo procura mostrar-nos que a liberação da lei mosaica é, ao mesmo tempo, um relacionamento com Cristo, através do Espírito Santo, o que pressupõe que passa a haver uma nova regra de vida, uma nova «regra de fé», que importa ser seguida pelos crentes, porquanto todos os indivíduos regenerados são libertados do legalismo. Por essa razão, esta epístola, acima de todas as outras, com a única exceção da epístola aos Romanos, é a Carta Magna da fé cristã.

Embora a epístola aos Gálatas talvez não tenha sido escrita com a idéia que seria lida através de todos os séculos, continua falando sobre a suprema necessidade da alma humana, em todos os tempos, a saber, a salvação em Cristo. Essa salvação é compreendida em sua perspectiva apropriada: a salvação não é uma proposição legalista e sacramental, mas antes, é uma proposição mistica, em que o Espírito Santo regenera a alma. O próprio Espírito Santo se toma nosso guia na vida, e nesse ofício ele se atarefa a formar a imagem de Cristo no íntimo dos remidos. Portanto, em certo sentido, somos Cristo, somos Cristo em formação, estando destinados a compartilharmos finalmente de todas as suas perfeições morais e metafísicas. Ora, isso é algo inteiramente diferente do legalismo mosaico, com seu código e suas cerimônias, com sua exigência de uma obediência perfeita aos seus mandamentos.

O indivíduo que permanece sob tal legalismo e nele confia, não pode obter o favor de Deus; todavia, grande favor há em reserva para ele, contanto que se volte para Deus através dos meios místicos e espirituais determinados por Deus, e não através dos meios legalistas e sacramentais, que também foram dados por Deus, de acordo com a legislação mosaica, mas tão-somente como ensinos simbólicos. A fraqueza da natureza humana, afundada nas maiores profundezas do pecado, a perder continuamente a batalha contra o mal por todo o lado, não pode elevar-se a si mesm a, nem mesmo através da observância consciente de uma lei perfeita.

A justiça perante Deus requer uma nova natureza; e nenhum indivíduo pode refazer a si mesmo. Somente Deus, por meio do Espírito de seu Pilho, pode fazer tal coisa. Pór conseguinte, a jubilosa aceitação do dom livre de Deus, que é a vida eterna, é a única maneira de alguém adquirir a liberdade do temor, do pecado, da ira e da morte. Onde se encontra o E spírito do Senhor, ainda tam bém há liberdade. A liberdade cristã, entretanto, não consiste de licenciosidade; pois embora a nova vida que temos em Cristo não possa ser sujeitada a qualquer código legal, aqueles que a possuem são filhos de Deus, dotados de um caráter moral muito mais elevado do que a lei era capaz de proporcionar. A fé que aceita a graça de Deus é ativada por esse amor criador a produzir o fruto do Espírito

Se compararmos, portanto, a mensagem da epístola aos Gálatas com o antigo judaísmo, veremos claramente que se tratava de um documento revolucionário. Qualquer pessoa que visitasse as sinagogas, aos sábados, sob hipótese alguma ouviria ali mensagem que se assemelhasse ao que aqui está escrito, por m ais bem alicerçados que estivessem , nos conceitos do A .T ., os m estres judeus das sinagogas. O judaísmo fizera de Deus um grande monarca, ou mesmo um tirano terrível, um credor, um juiz severíssimo; de tal modo que, para escapar de sua vingança, todos os homens teriam
que esforçar-se perenemente por serem perfeitos observantes da legislação mosaica. Através das revelações espirituais por ele recebidas, Paulo procurou livrar os crentes de tais conceitos, capacitando-os assim a palmilharem pela vereda da liberdade, isto é, o caminho da graça cjue conduz os homens de volta ao Senhor Deus, tendo o Espirito Santo como guia e Jesus Cristo como alvo de expressão. Paulo, pois, anulou todo o sistema sacrificial do judaísmo, com seu intricado esquema de leis e cerimônias, tendo exposto a lei moral sob uma nova luz, isto é, apresentando-a como reveladora do pecado humano, como juiz e condenador, e não como salvadora. Ora, esse evangelho cristão era simplesmente revolucionário, motivo pelo qual Paulo, com seus escritos, provocou reação contrária tão amarga, tanto dentro como fora do seio da igreja cristã, por parte de indivíduos religiosos mas míopes, que nada podiam ver senão legalismo e sacramentalismo como seus ideais religiosos.

A igreja cristã primitiva estava cindida e dividida por causa dessa controvérsia legalista acerca da qual lemos neste livro, e que é subentendida em muitos trechos da epístola aos Romanos, além de ser descrita nos capítulos décimo primeiro e décimo quinto do livro de Atos. Foi essa grande controvérsia que provocou o primeiro concilio universal da igreja cristã, realizado em Jerusalém e registrado historicamente no décimo quinto capítulo do livro de Atos. Esse concilio eclesiástico pronunciou-se em favor de Paulo e de suas idéias de liberdade cristã; mas toda a história eclesiástica subseqüente mostra-nos que isso realmente não deu solução à controvérsia, porquanto os legalistas puseram-se a seguir nos calcanhares de Paulo por onde quer que ele fosse em suas jornadas missionárias, procurando causar-lhe aborrecimentos.

Além desses perseguidores que agiam de dentro da igreja cristã, havia ainda aqueles judeus incrédulos que perseguiam o apóstolo Paulo onde quer que o encontrassem, enviando até mesmo delegações que o seguissem de perto, pelas cidades gentílicas. Finalmente detiveram-no no templo de Jerusalém, resolvendo assassiná-lo. Porém, tendo fracassado os seus planos homicidas, e tendo Paulo sido enviado a Cesaréia, o apóstolo foi deixado sob a custódia do governo romano. Em Cesaréia, pois, Paulo ficou aprisionado por dois anos; mas até mesmo ali foi assediado por judeus incrédulos provenientes de Jerusalém . Finalmente ele foi levado a Roma, como prisioneiro, e o registro. histórico do livro de Atos termina nesse ponto.

A tradição, bem como determinadas citações dos primeiros pais da igreja relatam -nos sobre a sua soltura após esse período de aprisionamento, referindo-se a uma viagem missionária que ele fez ao ocidente, à Espanha, onde iniciou um novo ministério, até que, finalmente, foi novam ente aprisionado, tendo sido martirizado nessa oportunidade por ordem do imperador Nero.

Essas perturbações foram sofridas pelo apóstolo Paulo devido à sua intransigente posição em defesa da liberdade da fé cristã. Pelos judeus, de dentro e de fora da igreja cristã, Paulo foi acusado de ser inimigo e destruidor da obra de Moisés. Essa gente estava certa de que Deus falara por intermédio de Moisés; mas não podia ter a mesma certeza de que Deus falava por meio de Paulo. Antes, visto que esse apóstolo parecia ensinar uma doutrina tão contrária à de Moisés, estavam certos que ele não p assava de um embusteiro, de um enganador. Portanto, por mais estranho que isso nos possa parecer atualmente, nos seus próprios dias era reputado o maior de todos os hereges, tendo sido perseguido sem descanso e sem misericórdia por causa disso. A epístola aos Gálatas foi escrita a uma comunidade de crentes gentios que haviam sido perturbados pelos elementos legalistas, tendo por intuito servir de tratado que lhes reassegurasse a liberdade cristã que os crentes desfrutam em Jesus Cristo. A autoridade apostólica de Paulo fora posta em dúvida, razão pela qual ele também procura re estabelecer nesse livro essa sua autoridade, mostrando que aquilo que ele ensinava não era de sua própria criação, mas antes, lhe fora dado por revelação do próprio Cristo.

                                                               AUTOR




Com base em considerações de estilo, de vocabulário, de reiteração de temas, de desvendamento da personalidade do autor e de considerações literárias de toda a sorte, praticamente não existe um único estudioso das Escrituras que duvide da autoria paulina dos quatro grandes clássicos paulinos, a saber, as epístolas aos Romanos, aos Gálatas, e as suas epístolas aos Coríntios. Esses quatro livros permanecem de pé ou caem juntos, porquanto ou todos foram escritos por Paulo ou nenhum deles foi escrito por esse apóstolo, tão óbvio é que o mesmo indivíduo escreveu todos os quatro. Somente ocasionalmente é que a autoria paulina desses quatro livros do N.T. têm sido posta em dúvida. Nenhuma tentativa séria nesse sentido fora feita até ao século passado, quando F.C. Baur e os seus seguidores adiantaram a teoria que a epístola aos Gálatas era resultante da controvérsia legalista que houvera na igreja cristã primitiva, tendo sido escrita, por conseguinte, por elementos paulinistas, em nome de Paulo, a fim de emprestarem senso de autoridade à posição que haviam tomado. Essa teoria, entretanto, não tem sido bem recebida pelos eruditos em geral, os quais podem encontrar ali muitos indícios de natureza histórica e biográfica, que seriam impossíveis de inventar, até mesmo pelos mais engenhosos seguidores do apóstolo Paulo. As circunstâncias referidas nessa epístola se coadunam perfeitamente com o que se sabe acerca do cristianismo da epoca de Paulo. Outrossim, a experiência religiosa refletida na epístola é característica daquilo que se sabe sobre Paulo, como homem. Diz M orton Scott Enslin: «E sta é uma epístola genuína de Paulo; e que a possuímos essencialmente conforme foi originalmente escrita tem sido posto em dúvida com grande raridade, e isso jamais por críticos sem preconceitos.· Nem se pode pensar em uma carta forjada. A excitação óbvia sob a qual ela foi escrita; a forma apaixonada de expressão; as mudanças súbitas de pensamento, tudo isso é mui improvavelmente obra de algum crente ensaísta posterior... Não se trata de um ensaio frio, estudado. Paulo se sentia tão excitado que seus pensamentos com freqüência ultrapassavam seu poder de expressão». (The Literature of the Christian M ovem ent, parte III, Introdução aos Gálatas, pág. 216). Juntamente com as epístolas de Romanos, I e II Coríntios, além de cinco outras das epístolas paulinas, F ilipenses, Colossenses, I e II Tessalonicenses e Filemom, esta epístola aos Gálatas ocupa lugar antiquíssimo dentro do cânon do N.T. Não há que duvidar que até mesmo em seus dias de vida, já havia uma coletânea de livros escritos por Paulo. Podemos considerar a passagem de II Ped. 3:16, que se refere aos seus escritos como «Escritura», o que, evidentemente, lhes dão autoridade similar aos escritos do A.T. O primeiro uso histórico da epístola aos Gálatas como um «livro sagrado», ou seja, como parte do «cânon» das Escrituras, ocorre em cerca de 144 D .C ., nos escritos do herege gnóstico Márciom. Este incluiu a epístola aos Gálatas entre os dez livros de Paulo que ele considerava inspirados, juntamente com uma forma mutilada do evangelho de Lucas. Esses onze livros é que constituíam o seu «cânon» das Escrituras. Uma geração mais tarde, o «cânon» muratoriano (de cerca de 185 D.C.) também incluía essa epístola como escrita por Paulo. Antes mesmo disso, Policarpo, em sua epístola aos Filipenses, a citou. Nos dias de Irineu, um dos pais da igreja, essa epístola aos Gálatas já vinha sendo usada pelo gnóstico Valentino, conforme somos informados no livro de Irineu, A dv. Hae. 3:3», bem como pelo seu discípulo, Teodoro (ver Exc. ap. Clem. A lex., cap. 53). O próprio Irineu se utilizou dessa epístola aos Gálatas (ver A dv. Haer. 111.7,2), como também o fez Clemente de Alexandria, outro dos pais da igreja (ver S trom . III, pág. 468), a exemplo de Tertuliano (ver De Praescript. Haer., cap. 6). Portanto, a epístola aos Gálatas era abundantem ente usada nos séculos II e III da era cristã, quando vieram aqueles pais da igreja. Pode-se asseverar, por conseguinte, que a autoridade canônica da epístola aos Gálatas não é inferior a qualquer outro dos livros do N.T., e que a sua posição como livro de autoria paulina tem sido confirmada através de toda a história do cristianismo.

                                                               

                                                        DATA E PROVENIÊNCIA                                                       



Datar com exatidão quando foi escrita a epístola aos Gálatas é uma tarefa impossível. Porém, a tentativa para datá-la depende m uito da consideração de quem eram os Gálatas para quem Paulo escreveu; e esse ponto é amplamente debatido na secção seguinte da introdução, o ponto III, intitulado «Quem eram os Gálatas, para quem Paulo escreveu?» Se aceitarmos a chamada teoria da «Galácia do Norte», isto é, que as pessoas para quem Paulo escreveu eram descendentes de uma tribo gaulesa que invadira o norte da Ãsia Menor e ali se estabelecera, no século III A.C., até que foram finalmente contidos por A talo, de Pérgamo, que os limitou a um território nortista, onde havia um platô, região essa que posteriormente se tomou conhecida por «Galácia», por causa dessa tribo de gauleses, então a data da escrita da epístola aos Gálatas seria extremamente difícil, pois não há praticam ente nenhum indício, no livro de A tos, que nos permita acompanhar nesse livro histórico as atividades do apóstolo Paulo nessa citada região. Tão-somente, em Atos 18:23, ficamos sabendo que essa epístola não poderia ter sido escrita por Paulo antes da jornada m encionada nesse versículo; e isso fica suposto porque o trecho de Gál. 4:13 subentende duas visitas de Paulo à Galácia, antes dele ter escrito essa epístola. Ora, se Paulo não a escreveu senão depois de sua segunda v isita ali, então sua escrita não se verificou imediatamente depois de seu retorno para Antioquia da Síria, ao término de sua primeira viagem m issionária. Nesse caso, não poderíamos datar a epístola aos Gálatas antes de 52 D.C., e ela passaria a ocupar o terceiro lugar na ordem cronológica das epístolas paulinas. O trecho de Gál. 4:13, entretanto, pode ser compreendido como referência a duas v isita s de Paulo, realizadas em seqüência rápida, ambas as quais teriam tido lugar antes da visita descrita em Atos 18:23. Assim, pois, duas visitas à área do sul poderiam ter sido feitas durante a primeira viagem missionária de Paulo, e então a epístola aos Gálatas teria sido escrita pouco depois dessa viagem . De fato, Gál. 1:6 subentende que Paulo escreveu essa epístola pouco depois de sua visita ali, e que não se passou muito tempo entre a sua primeira visita à Galácia e a escrita da epístola aos Gálatas. Isso teria tido lugar em cerca de 49 D .C ., fazendo dela a primeira das epístolas paulinas canônicas, e, por sua vez, o mais antigo documento escrito neotestamentário, que veio a fazer parte da coletânea que conhecem os por N .T . Por conseguinte, a data em que a epístola aos Gálatas foi escrita, em relação ao livro de Atos, deve ser fixada ao término da primeira viagem missionária de Paulo, pouco depois de seu retorno a Antioquia da Síria. (Ver Atos 14:26). Essa data anterior deve ser favorecida, nem que seja devido a uma im portante consideração. É que se o concilio de Jerusalém, conforme o registro do décimo quinto capítulo do livro de A tos, tiv esse precedido à escrita da epístola aos Gálatas, seria impossível que Paulo não tivesse feito qualquer referência específica aos decretos baixados naquele concilio, decretos esses que foram escritos e enviados às igrejas cristãs gentílicas. Como poderíamos imaginar que Paulo pudesse ter escrito tal epístola, que defende denotadamente a liberdade cristã, especialmente a dos crentes gentios, sem nem ao menos aludir aos decretos do concilio historiado no décimo quinto capítulo do livro de Atos? Ê impossível conceber tal lacuna, pelo que também somos forçados a concluir que a sua visita a Jerusalém, mencionada em Gál. 2:1-10, não pode ter sido a mesma visita referida no décimo quinto capítulo do livro de Atos, mas antes, deve ser identificada com a chamada «visita da fome», em Atos 11:30. Foi nessa visita da fome que ocorreram os vários encontros e debates entre Paulo e os outros apóstolos, conforme o registro de Gál. 2:1-10, ocasião em que a missão de Paulo entre os gentios foi aprovada pelos demais apóstolos, apesar do que a questão inteira do legalismo não fora apresentada ainda ao concilio, para que se procurasse chegar a uma decisão. Tudo isso, entretanto, antecedeu à visita de Paulo a Jerusalém, quando do concilio, segundo o registro do décimo quinto capítulo do livro de Atos, quando as questões da invasão do legalismo nas fileiras do cristianismo foi ventilada e examinada pela igreja inteira. Desse concilio é que se seguiram as declarações escritas legítimas sobre a liberdade gentílica em face da legislação mosaica. Ê impossível acreditarmos que isso já tivera lugar quando Paulo escreveu sua epístola aos Gálatas, porquanto ele não faz qualquer alusão ao fato, que poderia ter usado como argumento definitivo para mostrar a posição errônea dos legalistas. O fato que ele não menciona esses decretos do concilio de Jerusalém mostra-nos que ele escreveu a epístola aos Gálatas antes dos acontecimentos registrados no décimo quinto capitulo do livro de A tos. Portanto, a epístola aos G álatas foi o primeiro dos livros paulinos, e, por conseguinte, o primeiro de todos os livros do nosso N.T. Tudo isso poderia explicar a grande surpresa expressa pelo apóstolo Paulo, em Gál. 1:6; «Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo, para outro evangelho». Não se havia passado muito tempo, desde que Paulo estivera entre os crentes para quem agora escrevia. Nem bem havia o apóstolo retornado de sua primeira viagem m issionária, quando ouviu falar sobre a divisão causada pelos legalistas no seio da igreja cristã; e imediatamente ele escreveu e enviou essa epístola aos Gálatas, em grande agitação de espírito, antes do concilio de Jerusalém, referido no décimo quinto capítulo do livro de Atos. De conformidade com esse ponto de vista, a segunda visita feita à Galácia, referida em Gál. 4:13 como algo que ' antecedeu à escrita dessa epístola, foi a mesma visita referida em Atos 14:21-23, quando Paulo retornou a Listra, Icônio, Antioquia da Psídia e regiões circunvizinhas. Se essas especulações estão corretas, então o ano de 49 D.C. seria uma data razoável para a escrita da epístola aos Gálatas; todavia, diversos eruditos têm descoberto alguns problemas em tomo de toda essa idéia. Por exemplo, salientando que o décimo primeiro capítulo do livro de Atos sem dúvida teria mencionado algo sobre essas atividades de Paulo, se isso realmente houvesse ocorrido e se aquela visita não tivesse sido meramente para enviar alívio material. Além disso, alguns estudiosos supõem que I e II T essalonicenses, que foram escritas não muito depois da epístola aos Gálatas, certamente teriam alguma alusão ao conflito contra os legalistas. Porém, tais argumentos têm seus contra-argumentos; e assim vemos que estudiosos de valor se têm posto de um ou de outro lado desse problema. Se a teoria denominada Galácia do Norte está com a razão, então o lugar m ais provável de onde Paulo escreveu esta epístola aos Gálatas foi a cidade de Éfeso, porque Paulo, após ter trabalhado na Galácia por uma segunda vez (ver Atos 18:23), prosseguiu para Éfeso, onde se demorou por três anos. De conformidade com essa teoria, é bem provável que durante esse período é que foi composta a epístola aos Gaiatas. Mas outros estudiosos supõem que o lugar da escrita teria sido a cidade de Corinto (ver Atos 20:3); e, nesse caso, a epístola aos G álatas não pode ter sido escrita senão em 57 ou 58 D.C. Existem ainda alguns eruditos que supõem que Corinto foi o lugar onde essa epístola foi composta, mas antes da visita do apóstolo Paulo a Efeso, ou seja, no tempo descrito no décimo oitavo capítulo do livro de Atos, ou seja, uma data tão anterior como 51 D.C. Por qutro lado, se a teoria denominada Galácia do Sul é que está com a razão, então essa epístola poderia ter sido escrita de Antioquia da Síria, lugar para o qual Paulo retornou, depois de sua primeira viagem missionária. Na verdade em tomo dessa questão há uma grande variedade de opinião, e os eruditos permanecem divididos em torno da questão. A posição assumida por este comentário é que a epístola aos G álatas foi escrita em cerca de 49 D .C ., tendo sido, por conseguinte, a primeira das epístolas canônicas do apóstolo Paulo; e mui provavelmente ela foi escrita em Antioquia da Síria, antes da realização do concilio de Jerusalém narrado no décimo quinto capítulo do livro de Atos.



                                                       PROPÓSITOS 



A ênfase que Paulo dá à sua chamada para o apostolado, logo no primeiro versículo desta epístola, mostra-nos que ele estava claramente na defensiva; pois embora ele fosse o próprio progenitor espiritual das igrejas da Galácia, a sua autoridade como ministro de Cristo fora posta em dúvida. Por essa razão é que Paulo escreveu enfaticamente: «Paulo, apóstolo, não da parte de homens, nem por intermédio de homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai...» E isso a fim de assegurar aos seus leitores que tanto a sua pessoa como a sua mensagem eram aprovadas pelos céus. A introdução à epístola aos Gálatas não encerra qualquer observação laudatória, mas é estritamente formal, de conformidade com o antigo estilo epistolar. Em contraste com isso, pode-se verificar os seus louvores à igreja de Roma, no prólogo da epístola aos Romanos. Além disso, nem bem ele começou sua epístola e logo deixou transparecer a sua agitação de espirito: «Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo, para outro evan gelh o...» N essa sentença de Paulo destacam -se as palavras «...outro evangelho...» Na continuação da epístola, vemos que Paulo atacava aos «legalistas» e ao seu «outro evangelho», o qual, mui provavelmente, era uma mescla de conceitos cristãos e mosaicos. Em outras palavras, aos ensinos apostólicos, os legalistas aliavam os ensinamentos de Moisés, conforme este era então com preendido. E isso criava a controvérsia sobre o «legalism o», acerca do que lem os no décimo primeiro capítulo do livro de Atos, e, especialmente, no décimo quinto capitulo desse mesmo livro. Os convertidos dentre as comunidades judaicas, especialmente aqueles que tinham vindo do farisaísmo, conforme fora o próprio apóstolo Paulo, pensavam que havia necessidade do sistema das boas obras para a salvação, ou pelo menos, do rito inicial da circuncisão, perfazendo assim um sistema sacramentalista. Em algumas de suas passagens, temos a impressão que Paulo considerava a esses legalistas como irmãos. (Ver, por exem plo, a parte inicial do décimo quarto capítulo da epístola aos Romanos). Em seu fervor, Paulo evidentemente estava escrevendo com o seu espírito em grande agitação, quando tomou da pena para registrar sua epístola aos Gálatas, motivo pelo qual não estendeu a mão de comunhão àqueles legalistas, os quais, mui provavelmente, haviam surgido de dentro das próprias comunidades do cristianismo da Galácia, devido aos convertidos vindos do judaísm o e à influência provável de «legalistas» ambulantes, que procuravam seguir ao apóstolo Paulo por onde quer que ele fosse, a fim de perturbar o seu trabalho, já que o reputavam um herege dos mais perigosos, que pretendia destruir a obra de M oisés. Devemos observar os versículos oitavo e nono do primeiro capítulo desta epístola aos Gálatas, que nega totalmente a validade do «evangelho» que se ouvia dos lábios dos oponentes de Paulo. Depois de sua primeira visita à Galácia, tendo retomado a A ntioquia da Síria, provavelm ente quase im ediatam ente Paulo ouviu notícias sobre como os leg a lista s vinham perturbando as igrejas da Galácia. Estes teriam penetrado sorrateiramente quase assim que ele partira, tendo convencido a m uitos dos crentes gálatas que Paulo era adversário de M oisés. E assim conseguiram solapar não som ente o seu prestígio entre os crentes da Galácia, mas também destruíram virtualm ente a sua m ensagem sobre a graça de Deus em Cristo, misturando-a com exigências legalistas próprias do judaísmo. Por conseguinte, certos pregadores «conservadores» desempenhavam um «bom» papel, persuadindo os crentes da Galácia que a fé não é suficiente, mesmo que se trate da fé em Jesus, o Messias genuíno. A essa fé necessário seria adicionar as leis e os costumes de Moisés, chegando-se ao extremo de recusar qualquer contacto ou comunicação com os gentios, incluindo o comer em companhia deles, apesar de já se encontrarem nas fileiras do cristianism o. T ratava-se do separatismo radical típico ao judaísmo, e os trechos de Gál. 2:11-14 e 4:10 mostram-nos quão grande era o caos lançado nas igrejas da Galácia, por causa desses problemas. Por essa razão é que os legalistas levantavam questões acerca da validade da doutrina paulina da graça divina e da suficiência de Cristo para a salvação. E ainda ultrapassavam desse particular, pois igualmente atacavam pessoalmente a Paulo, lançando uma sombra de dúvida sobre o seu apostolado, se é que não procuravam abertamente lançar no descrédito o seu apostolado. Os adversários de Paulo salientavam que ele não fora um dos apóstolos originais de Cristo, e que agora distorcia os verdadeiros ensinamentos de Jesus. (Ver Gál. 1:10 e ss.). Há provas que, para complicar ainda mais os problemas enfrentados pelo apostolo Paulo, entre os seus inimigos havia vários supostos convertidos que tinham vindo do paganismo puro, e que agora pervertiam a sua doutrina da graça em um sistema de libertinagem, afirmando que o corpo é que encerra o princípio do pecado, e que o seu uso é de pouca ou nenhuma conseqüência para a alma, a qual, por ocasião da morte física, fica livre da presença do pecado e entra no estado de santidade é pureza. Esses tais, portanto, interpretavam as exigências paulinas sobre a crucificação do velho eu, com as suas paixões pecaminosas, como meramente uma nova forma de escravidão a lei. (Notemos os trechos de Gál. 2:19,20; 5:14,22-24). E sses elem entos vindos do paganism o chegavam ao extremo de dar a entender que Paulo nem ao menos ensinava um sistema de graça, mas continuava representando Moisés e sua doutrina da circuncisão. (Ver Gál. 2:18 e 5:11). Parece, pois, que o apóstolo Paulo sofreu ataques vindos de dois grupos d istin tos de radicais, a saber, os «legalistas» e os «libertinos». Os conservadores legalistas procuravam avidamente encontrar lapsos morais, procurando provar seu ponto que a doutrina de Paulo sobre a graça divina conduzia os homens exatam ente a isso. Por outro lado, os libertinos acusavam-no de recusar-se a romper definitivamente com M oisés e suas exigências. Por conseguinte, surgiram problemas e debates não meramente acerca da própria pessoa de Paulo, mas igualmente muitos conflitos entre essas duas facções radicais da igreja. O debate entre essas duas facções se tornou tão agudo que Paulo teve de advertir aos seus leitores contra o perigo de se morderem e devorarem mutuamente. (Ver Gál. 5:15). O próprio apóstolo Paulo se utilizou de uma linguagem cortante e mesmo sarcástica contra os seus detratores, imputando-lhes os defeitos de ambição egoísta e covardia. (Ver Gál. 4:16,17 e 6:12,13). Não há que duvidar que Paulo muito gostaria de fazer-se presente para dar solução pessoal aos problemas; mas, por enquanto isso não era possível. Por essa razão, pois, é que lhes escreveu a epístola que se chama epístola aos Gálatas. (Ver Gál. 4:20). No tocante à questão dos m otivos que levaram Paulo a escrever essa epístola, Lange, em sua introdução à epístola aos Gálatas, apresenta-nos as seguintes observações: «O estado espiritual daquelas igrejas da Galácia, que a princípio fora um motivo de alegria, havia sido tristemente perturbado por certos indivíduos cujos nomes não são revelados, os quais, sem dúvida alguma, se diziam cristãos, embora de tendências judaizantes ou farisaicas. É claro que essa gente viera do estrangeiro, talvez como emissários provenientes da Palestina. D ificilm ente teriam sido proselitos. Tal conclusão, porém, não se baseia em Gál. 5:12 e 6:13. Esses se declaravam em oposição direta ao ponto de vista cristão, ponto de vista esse que, até então, prevalecera naquela igreja; e, outrossim, dirigiam seus ataques polêmicos diretamente contra o apóstolo Paulo, como o primeiro a promulgar aqueles pontos de vista. Ã persuasão que se arraigara através de Paulo, de que a justificação e a salvação devem ser obtidas exclusivamente por meio da fé em Cristo, devido à sua graça, eles opunham a assertiva que certas obras da lei, especialmente a observância de festividades judaicas, e o recebimento da circuncisão, eram medidas necessárias para a salvação. Por motivo de prudência é que eles não exigiam a observância da lei mosaica em sua inteireza. A fim de obterem sim patia para os seus ensinamentos, diametralmente contrários à doutrina de Paulo, eles procuravam solapar a consideração em que os crentes da Galacia o tinham , negando a sua dignidade apostólica, apelando para a autoridade de apóstolos m ais antigos, especialm ente T iago, Pedro e João, como as verdadeiras colunas da igreja, contra quem, conforme eles apresentavam o caso, Paulo se opunha, ao passo que eles mesmos lhe eram contrários. De fato, parecem ter imputado a Paulo até mesmo a suposta ‘incoerência’ de algumas vezes pregar a circuncisão entre os judeus (ver Gál. 5:11), o que significaria, portanto, que a sua doutrina da liberdade dos crentes, em face da lei mosaica, procedia tão-somente de uma complacência indigna ante os gentios. (Comparar com Gál. 1:10)». Nesse seu comentário, Lange não dá a entender a existência de duas facções diversas que se opunham ao apóstolo Paulo; porém, as notas expositivas oferecidas mais acima devem ser suficientes para demonstrar a existência de dois grupos de opositores que combatiam a Paulo. Atacavam-no de pontos doutrinários extremos; e, além disso, se combatiam entre si. A própria epístola aos G álatas m ostra-nos exatam ente quais eram os pontos por causa dos quais Paulo vinha sendo atacado, e que formas de doutrina ele achou necessário salientar novamente: 1. A base da aceitação perante Deus. (Ver Gál. 2:16,17; 3:10,17; 4:3-6 e 5:2-4). 2. A supremacia e exclusiva suficiência de Cristo. (Ver Gál. 2:21; 3:18 e 4:8,9). 3. A validade do evangelho e do apostolado de Paulo. Ver Gál. 1:10 e ss. A maior parte do segundo capítulo dessa epístola na realidade é uma prolongada defesa da autoridade paulina. (Gál. 1:11- 2:14). 4. A sede da autoridade religiosa. Seria Moisés ou Cristo, ou seria M oisés e Cristo? Para quem devem os olhar como autoridade, na fé cristã recém-firmada, que mui obviamente é uma graduação mais elevada sobre a fé do antigo judaísmo? A supremacia e a exclusiva suficiência de Cristo, tal como no segundo ponto, acima, é a resposta de Paulo.

 trecho de Gál. 5:22-24 é a declaração clássica sobre essa questão. A graça nos relaciona como parentes de Cristo, e, nesse sistem a, o E spírito Santo opera no íntim o, a fim de produzir fruto santo. Portanto, na fe religiosa, esse fruto não mais depende de observâncias legalistas, festividades, leis, dias especiais e cerimônias, como a circuncisão. Antes, na fé cristã deve haver aquela comunhão mística com Cristo, o que nos assegura a vida vitoriosa, o que é muito maior e poderoso do que as observâncias legalistas, por mais conscientemente que elas sejam cumpridas. (Ver também Gál. 2:20 e 5:24, que versam sobre essa questão). 6. A unidade da igreja cristã. Na Galácia as igrejas se agitavam, lutando contra o apóstolo Paulo e estando divididas entre si, conforme as notas expositivas abaixo esclarecem. Em Cristo, entretanto, não pode continuar existindo facções e conflitos, porquanto Cristo é a essência da harmonia divina. (Ver Gál. 5:15 e 6:12,13). Paulo procurou demonstrar que Cristo remove os antigos preconceitos e as barreiras próprios do judaísm o, porquanto, em Cristo, todos os remidos se tomam um só, sem qualquer distinção de raça ou de camada social. Para os crentes, essa é uma doutrina tão comum que se torna axiomática; porém, nos tempos de Paulo, entre pessoas criadas segundo a cultura judaica, essa idéia era simplesmente revolucionária. Podemos observar a discussão apresentada por Paulo, em Gál. 2:1-14, onde descobrimos que lhe foi necessário repreender a Simão Pedro por causa dessa questão.Quanto mais não condenaria ele aos legalistas, que perturbavam aos crentes da Galácia? (Ver Gál. 5:6; 6:15 e 3:26-28). 7. Universalidade da mensagem, cristã: Trata-se de um tema que era extrem am ente comum na igreja cristã prim itiva, conforme se pode ver claramente em todos os evangelhos. Não era uma lição fácil de ser aprendida; e até mesmo o grande apóstolo Pedro teve de receber uma visão mística especial a fim de ficar convicto da verdade em tomo da matéria, ou seja, que em Cristo, os judeus não mais ocupavam uma posição de privilégio. (Ver A tos 11:1-8). O segundo capítulo desta epístola aos G álatas m ostra-nos como esse problema continuava afetando até mesmo a apóstolos do Senhor Jesus. A passagem de Gál. 3:26 mostra-nos que o ideal seria a total eliminação das distinções estabelecidas pelo judaísmo, ficando implantada exclusivamente a graça divina, em Cristo Jesus. Toda essa epístola aos Gálatas, na realidade, é um tipo da defesa de toda a suficiência e universalidade de Cristo, bem como da nova fé que temos nele, que liberta tanto a gentios como a Judeus, tanto a varões como a varoas, tanto a escravos como a livres, situando-os a todos em um mesmo nível.



                                                         TEMAS PRINCIPAIS

                                                   TEMAS PRINCIPAIS 

A discussão acima esboça alguns dos tópicos principais ventilados pelo apóstolo Paulo, conforme se evidencia de seus diversos argumentos contra os seus oponentes. O próprio livro aos Gálatas, entretanto, não tem natureza totalm ente polêmica, embora não restem dúvidas que se trata da epístola mais polêmica dentre todas as que Paulo escreveu, tendo sido escrita especificamente a fim de argumentar e refutar idéias e práticas errôneas, pervertidas. É interessante observarmos que, na história eclesiástica, essas regiões da Galácia continuaram sendo centros produtores de heresias e facções entre os cristãos.Por conseguinte, o que ocorreu nos dias de Paulo foi apenas o começo de uma longa história de perturbações, de natureza religiosa, que afetava sobretudo aquelas regiões do mundo. Sobre essa questão da agitação religiosa na Galácia, diz Lightfoot, em seu comentário sobre a epístola aos Gálatas, o que segue: «A s notícias fragm entárias de sua carreira subseqüente (a do apóstolo Paulo) refletem alguma luz sobre o tem peram ento e a disposição das igrejas da Galácia, nos tempos de Paulo. A Ásia Menor era chocadeira de heresias, e, dentre todas as igrejas cristãs asiáticas, não havia nenhuma tão inclinada para a dissensão como a igreja gálata. A capital da Galácia foi a grande fortaleza do reavivamento montanista, que se prolongou por mais de dois séculos, dividindo-se em diversas seitas, cada qual distinguida pelos gesto s mais fanáticos, como observâncias rituais minuciosas. Ali, por semelhante modo, eram encontrados ofitas, manqueanos e sectários de todas as variedades.Foi durante as grandes controvérsias do século IV d.C. que houve dois bispos su cessivos, Marcelo e B asílio, que perturbaram a paz da igreja; pois um deles se colocou ao lado do sabelianismo, e o outro se fez aliado do erro ariano. Um dos pais da igreja desse período, Gregório Nazianzeno, denunciou ‘a insensatez dos Gálatas, que abundam em muitas ímpias denominações’». A essa observação geral e negra, podemos acrescentar uma nota preparada por Lange (in loc.), que citou Lightfoot quanto a esse particular: «Apesar das perseguições tanto de Diocleciano e de Juliano.que tentaram pessoalmente restaurar o paganism o na Galácia, os crentes se comportaram com fortaleza e constância». Portanto, podemos ter a certeza que a escrita desta epístola aos Gálatas não foi um esforço vão, pois não há que duvidar que esse docum ento apostólico se tornou a Declaração da Independência Cristã, pois, embora tivessem prosseguido as heresias, houve cristãos que conheceram a Cristo realmente, e que aceitaram e aplicaram a mensagem de Cristo, conforme ela aparece contida nesta epístola. Os temas principais desse livro, são: 1. A defesa do apostolado de Paulo é um de seus assuntos principais. (Ver Gál. 1:1,8,9,11-14 e 2:1-21). Paulo declara que o seu apostolado havia sido recebido da parte de Deus Pai e da parte de D eus Filho. Além d isso, a sua m ensagem se harmonizava com aquilo que pregavam os apóstolos mais antigos, os quais também reconheciam a sua autoridade de apóstolo de Cristo entre os gen tios.E xistem referências esparsas, aqui e ali, no resto dessa epístola, que aumentam o peso dessa defesa própria, conforme mostramos nas referências acima citadas. 2. O verdadeiro evangelho de Cristo foi recebido por revelação, o qual abre o caminho para a liberdade cristã, independente do antigo judaísm o.O s dem ais apóstolos concordavam com Paulo também nesse particular, de tal modo que Paulo não criara doutrina alguma, e nem pervertera os ensinam entos de Cristo, confotm e alguns erroneamente afirmavam. (Ver Gál. 1:8-10 e 2:1-14). Essa liberdade cristã consiste do abandono da lei m osaica, até onde se poderia pensar que a mesma tem uma função salvadora, e até onde se poderia pensar que a mesma serve de «guia da conduta diária» dos redim idos. Pelo contrário, o crente passa a depender exclusivamente de Jesus Cristo e de seu sistema da graça divina. (Ver Gál. 2:15-21). Esse era também o evangelho que Abraão conhecia. (Ver Gál. 3:6-18). Tal evangelho traz liberdade e igualdade entre todos os rem idos. (Ver Gál. 3:26-29). Através desse evangelho é que os homens se tomam filhos de Deus e herdeiros juntamente com Cristo. (Ver Gál. 4:1-20). (Quanto a notas expositivas sobre a com pleta significação da filiação a Deus, ver Rom. 8:29 e Efé. 1:23). 3. Relações entre a lei e a gràça. A lei mosaica teve uma função «intermediária». Não servia de agente salvador, mas, quando muito, foi uma espécie de mestre-escola, o que nos m ostra o quanto o pecador n ecessita de Cristo. (Ver Gál. 3:19-25 e 2:15-19.0 trecho de Gál. 3:6-18 mostra-nos o caso ilustrativo de Abraão). 4. O sistema da graça divina não permite licença para o pecado.Esse grande tema é amplamente expresso e desenvolvido em Rom. 6-8, sendo mais abreviadamente abordado nesta epístola aos Gálatas. Destaca-se nisso o fato que a maturidade espiritual é requerida da parte dos herdeiros de Deus: o sistema da graça incorpora suas responsabilidades e seus frutos inerentes e necessários. (Ver a mensagem de Gál. 5:1- 6:18). Deve haver o uso correto da liberdade, a fim de que o indivíduo seja libertado dessa servidão ao pecado e à lei, lei essa que «intensifica o pecado», fazendo-o «avultar» (ver Rom. 5:20), e isso subentende que o indivíduo deve tornar-se servo de Cristo. A liberdade cristã, pois, dá a entender uma nova servidão, um novo serviço, prestado a outrem, e isso através da lei do amor. Além disso, a lei é fruto do Espírito Santo (ver Gál. 5:22), o que significa que deve ser uma qualidade necessária de todo o crente, porquanto a vida em Cristo consiste da comunhão mística com o Espírito. 5. Os herdeiros de D eus, seus filhos, são necessariamente controlados pelo Espírito Santo, mediante a sua permanência habitadora, garante a produção do fruto espiritual, o que significa a m anifestação da retidão, que a lei podia tão somente destacar, mas não produzir. O conceito paulino da religião mística é assim confirmado nesta epístola aos Gálatas. (Ver o oitavo capítulo da epístola aos Romanos, onde domina esse tema). Assim, pois, a fé cristã não consiste em uma nova modalidade de lei ou padrão, e, sim , de uma «fé viva», do contacto com a divindade e da comunhão no íntimo com o Senhor. Esse é o «coração» mesmo do cristianismo, que vinha sendo não somente negligenciado pelos crentes da Galácia, mas que também raramente é expresso pela moderna igreja cristã. (Ver Gál. 5:22-25). A vida original se encontra- «no e insuflada pelo mesmo Espírito de Deus. O cristianismo, por conseguinte, quando é devidamente compreendido, se eleva muito acima de qualquer expressão legalista ou sacramental, que era o fator predominante do judaísmo, mas antes, eleva o crente, ainda nesta vida terrena, até aosJugares celestiais, quanto à experiência de seu homem interior. Cristo está em nós, sendo ele a esperança da glória, e isso através do Espírito Santo. O Espírito Santo garante a herança futura, mas agora mesmo ocupa-se produzindo a imagem de Cristo no crente. Os vários aspectos do fruto do Espírito Santo são, meramente, produção de Cristo, no íntimo. Por isso é que Paulo pôde dizer em verdade, «...para mim, o viver é Cristo...», pois a vida que agora o crente tem é vivida através da comunhão mística com Cristo Jesus. (Ver Gál. 2:20).

6. Principio da colheita segundo a semeadura. 

Esse é um dos temas mais freqüentemente citados e mais bem-conhecidos do apóstolo Paulo, expresso em Gál. 6:7,8. Essa lei é universal e absoluta. Aquilo que um homem colhe é o que ele semeou.Não nos podemos libertar dessa lei, nem mesmo mediante a fé em Cristo, pois apesar do pecado não mais nos ser imputado, e a despeito do fato que a vida eterna nos é garantida em Cristo, contudo, recebemos aquilo que fazemos, de bem ou de mal, e isso tanto nesta vida terrena como nos lugares celestiais. O pecado perdoado não subentende que o crente pode escapar das conseqüências e penalidades naturais do pecado. Quanto a isso, basta-nos considerar o caso de Davi, o qual, apesar de haver sido perdoado de seu pecado de adultério e homicídio, não obstante passou o resto de sua vida pagando por seus erros propositais. (Com isso se pode comparar o trecho de II Cor. 5:10). N essa passagem encontram os a espantosa declaração que os crentes serão levados ao tribunal de Cristo, onde receberão «aquilo que tiverem feito», de «bom ou de mau». A vida sempre vem ao encontro do nosso eu, demonstrando o que esse «eu» tem sido, quais as condições motivadas pelas nossas ações, e por que fomos levados a este ou àquele estado espiritual. Assim, pois, um crente poderá vir a entrar no reino celeste «como que através do fogo», ou poderá fazê-lo «abundantemente».E isso depende tão-somente da perm issão por ele dada, ao E spírito Santo, para que o Senhor oriente o seu coração, dom inando-lhe a vida e produzindo os seus frutos espirituais. Portanto, o princípio da colheita segundo a semeadura é uma lei absoluta, que se aplica a todos os homens, quer sejam crentes ou incrédulos. Cristo nos liberta dos horrores do julgamento final; não obstante, teremos que encontrar o nosso próprio «eu», até mesmo do outro lado da porta de D eus que denom inam os de «morte física», e que nos dá entrada a uma nova forma de vida, a fruição da vida eterna. Esses fatos solenes ou são ignorados ou são convenientemente esquecidos por alguns, na igreja moderna. Para eles a lei da colheita segundo a semeadura se aplica somente aos incrédulos. Esse é o tipo de doutrina libertina contra a qual o apóstolo Paulo combatia, e que se tomara um dos principais ensinamentos de seus adversários. No entanto, partirmos «para o outro lado» da existência não implica em estagnação. Pois apesar do crente ter talvez se aleijado nesta existência terrena, no que tange à sua vida espiritual, vindo a colher os resultados adversos de sua corrupção, e sendo assim salvo como que «através do fogo», não podendo entrar com abundância nos lugares celestiais, contudo, ele haverá de prosseguir na direção daquele grande alvo que é a perfeição em Cristo, em que todos os remidos haverão de compartilhar de sua natureza moral e metafísica, e, de fato, de sua divindade (conforme lemos em II Ped. 1:4). Esse elevadíssimo alvo está assegurado no caso de todos os crentes verdadeiros, e o oitavo capítulo da epístola aos Romanos e o primeiro capítulo de Efésios indicam-nos essas verdades, apeslür do que para alguns crentes será necessário muito mais tempo para atingirem tal alvo. E infantil aquela idéia que pensa que haverá estagnação espiritual nos lugares celestiais, situando todos os crentes em um único nível de avanço espiritual, meramente devido à morte física. A morte física é tão-somente uma transição para outra forma da existência, não significando a mesma que o crente obtém automaticamente, por meio dela, tudo quanto lhe foi prometido nas Escrituras; e isso porque aquilo que nos foi prometido deve ser formado em nós através da atuação do Espírito Santo no homem interior, e isso sem importar se ocorrerá ainda nesta existência terrena, ou já nos lugares celestiais. O alvo da existência, para os remidos, entretanto, é o mesmo, ou seja, a perfeição absoluta em Cristo. 

Παύλος απόστολος, ούκ απ' ανθρώπων  ούδè δι’ ανθρώπου άλλα διά Ίησοΰ Χρίστου καί θεού πατρος τον εγείραντος αυτόν Ικ νεκρών,


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