Colossenses 1:15
COLOSSENSES 1:15
A SUPREMACIA DE CRISTO:
Cristo encarnado é supremo sobre todas as coisas, pois Ele é o criador universo, a esfera na qual tudo subsiste e o agente de Deus na reconciliação do universo.
O presente estudo exegético visa estudar o texto de Colossenses 1. 15 – 20, a partir de uma análise histórico-gramatical-teológica, com o objetivo de entender e extrair o sentido original proposto pelo autor. Para isso, procurar-se-á entender contexto dos seus leitores originais, a fim de perceber os fatores que influenciaram a igreja de Colossos a trocar o verdadeiro Evangelho por outro totalmente antagônico ao de Cristo. Parte-se do pressuposto que um dos propósitos de Paulo é combater os hereges de Colossos, os quais não negavam a Cristo, mas não lhe davam lugar supremo. Para isso, ele mostra na perícope aqui analisada que: o Cristo encarnado é supremo sobre todas as coisas, pois Ele é o criador universo, a esfera na qual tudo subsiste e o agente de Deus para trazer o cosmo em harmonia através da reconciliação
Uma leitura atenta desta passagem nos conduz ainda para algumas questões, tais como: Qual é pano de fundo desta passagem?
O que é a conhecida no meio acadêmico como “heresia de Colossos”?
O texto aqui estudado é um hino? Se o é, ele foi escrito pelo Apóstolo?
Quais são as possíveis estruturas para este texto?
Além disso, será buscado o significado do termo πρωτότοκος (primogênito) que aparece tanto no verso 15 como no 18, a fim de responder a seguinte questão: Apontaria ele para Jesus como o primeiro a ser criado? Estas serão importantes perguntas a serem respondidas, mesmo de forma breve, no presente trabalho.
Para uma maior compreensão, procurar-se-á estudar o texto em sua língua original, a fim de buscar uma tradução literal do mesmo, tentando respeitar ao máximo o sentido das palavras. Também, será apresentada a mensagem do texto, para época da escrita, e a partir dela, perceber o significado para todas as épocas. Dar-se-á atenção ainda aos aspectos teológicos e pastorais da passagem.
De semelhante modo, será apresentado um esboço de sermão para uma possível pregação, já que o objetivo final deste trabalho é a pregação e aplicação das verdades estudadas ao contexto atual da igreja.
Todavia, por considerar à profundidade dos aspectos exegéticos e teológicos da presente perícope, várias questões permanecerão em aberto para futuras discussões e análises.
1. CONTEXTO HISTÓRICO E CULTURAL
Para entender o texto de Colossenses 1. 15 – 20 faz-se necessário determinar o autor da carta, a data, o remetente e o ambiente religioso, histórico, cultural e social no qual a igreja se encontrava. Por esse motivo, se observará alguns aspectos que laçam luz ao mesmo.
CONTEXTO CANÔNICO
Cristo é sem dúvida o centro de toda Escritura. O Antigo Testamento anuncia sua vinda, os Evangelhos o mostra entre nós e as cartas, juntamente com Atos e Apocalipse, apresentam a esperança de seu retorno. Por isso, qualquer contexto canônico que apresente a Cristo é amplo. Por questão de espaço, será apresentado apenas às correlações principais dos aspectos cristológicos presentes na perícope aqui analisada.
A ideia de Cristo como sendo o Deus eterno que se fez um de nós, se encontra, também, no prólogo do quarto Evangelho (Jo. 1. – 14). No que se refere a Cristo como “à imagem de Deus” essa verdade já fora afirmada pelo Apóstolo em 2 Cor. 4.4. Em ambos os lugares, Cristo como “à imagem de Deus” aponta para a revelação da essência do Pai na Pessoa do Filho. Ainda, com o uso da palavra “imagem”, Paulo está enfatizando que Jesus é a manifestação perfeita de Deus. Como assevera o autor de Hebreus ele é “a expressão exata do seu Ser” (Hb. 1. 3).
O título “Primogênito” talvez seja um eco da linguagem cristocêntrica do Salmo 89.27, onde Deus diz ao rei Davi: “Fá-lo-ei, por isso, meu primogênito, o mais elevado entre os reis da terra”. Todavia, deve-se notar que este título pertence a Cristo não somente como o Filho de Davi, mas também como a Sabedoria de Deus. Nesse sentido, como será visto, Paulo em comum com outros escritores do NT (Jo. 1:4; Hb 1:3), identifica Cristo com a Sabedoria de Deus e atribuindo-lhe certas atividades que são atribuídas à personificação da Sabedoria na literatura Antiga Testamento, [49] como se observa em Provérbios 8: 22, 23, onde o sábio diz: “O Senhor me criou [referindo-se a sabedoria] como o princípio (רֵאשִׁית WLC e ἀρχὴν na LXX) de seu caminho, antes das suas obras mais antigas; fui formada desde a eternidade [divindade da sabedoria], desde o princípio, (רֵאשִׁית WLC e ἀρχῇ na LXX ) antes de existir a terra”.
No que se refere a sua supremacia apresentada no verso dezesseis, (o qual Paulo afirma que Cristo é superior a todos os seres angélicos, inclusive dos mais sublimes) vemos o autor de Hebreus dá a mesma ênfase. (cf. Hb. 1:1-14).
Finalmente, em relação à restauração cósmica: “reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus”, é possível perceber a mesma ideia em Romanos quando Paulo diz que “a ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus... na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus” (Romanos 8. 19 – 22). Este texto, por sua vez, não é apenas uma correlação de ideias, mas acima de tudo lança luz, e até mesmo serve de base explicativa, para o texto de Colossenses.
3. ESTUDO TEXTUAL
A presença ou ausência da segunda ocorrência dos termos δι αὐτοῦ (“através dele”) no verso 20 é um problema de variante textual difícil de resolver. As evidências externas são bastante divididas. Muitas testemunhas antigas não contemplam estes termos (B D* F G I 0278 81 1175 1739 1881 2464 ). Por outro lado, testemunhas igualmente importantes os consideram (Ì46 א A C D1 Ψ 048vid 33 Ï). Sendo assim, ambas as leituras são possíveis. Todavia, preferiu-se aqui manter tais termos e colocá-los em colchetes.
TRADUÇÃO DO TEXTO
15 O qual é imagem de Deus o invisível, primogênito sobre toda a criação
CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS ENTRE AS TRADUÇÕES E ANÁLISE DAS PRINCIPAIS PALAVRAS CHAVES
A comparação entre as versões e a nossa própria tradução revela que há poucas diferenças entre elas. Aqui citaremos as mais importantes que convergem ou divergem das versões mais tradicionais.
No verso 15 embora o genitivo τοῦ θεοῦ τοῦ ἀοράτου poderia expressar posse sobre o εἰκὼν, é mais provável que τοῦ θεοῦ é um genitivo objetivo. É o Deus invisível que está a ser “revelado” por Jesus
O termo grego πρωτότοκος pode se referir tanto a primeira na ordem do tempo, como um primeiro filho, ou poderia se referir a alguém que é destaque na classificação. O “primogênito” (Como traz a ARA, NVI e ACF) era filho mais velho de uma família ou uma pessoa de posição preeminente. A LXX usa este termo para descrever o rei Davi no Salmo 88. 28. Aqui a ênfase parece esta sobre a prioridade de classificação de Jesus como acima e além da criação.
Uma leitura superficial das palavras “de toda a criação” (como traduzem as versões ARA, NVI e ACF) pode levar à conclusão de que Cristo é uma parte da criação, ou seja, o primeiro dos seres criados por Deus. Tal leitura da frase, no entanto, não está em consonância com o contexto, que distingue a maior forma de Cristo, desde a criação. Também não é esse o entendimento da frase exigida pela gramática. κτίσεως (“criação”) poderia ser entendida tanto como um ablativo de comparação (“antes da criação”) ou como um genitivo. Neste último caso, pode ser um genitivo partitivo (Cristo como parte da criação), de referência (“com referência à criação”) ou o que é mais provável genitivo de subordinação (“sobre a criação”), como traduz o Rev. Paulo Sérgio. Nesse sentido, como obseva Wallace, “a criação esta subordinada a Cristo”. “Primogênito”, neste texto, significa duas coisas: Ele precedeu toda a Criação, e Ele é soberano sobre toda a criação.
Comentários
Postar um comentário